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Foram-se os anéis...

 

Portugal exportou o ano passado 13,7 toneladas de ouro em bruto, no valor de 519 milhões de euros. O INE refere que este montante representa um aumento de 140%, o maior registado desde o ano 2 000.

Não é difícil adivinhar que isto se fica a dever à situação precária de milhares de famílias obrigadas a desfazerem-se de valores adquiridos ou  herança de família.

Longe vão os tempos em que os açorianos emigrados nos Estados Unidos, em visita à terra, ostentavam, garbosamente, colares e anéis de ouro pesados, à semelhança do que faziam, no primeiro quartel do século passado, os que regressavam carregados de águias de ouro.

Não foi há muitos anos que as ourivesarias destas ilhas tinham como melhores clientes os residentes na América do Norte que, antes de regressarem, investiam muito das suas poupanças na aquisição de ouro   português, pois o americano era de menor quilate.

Presentemente, pelos motivos já referidos, o negócio de compra e venda de ouro usado está em expansão. Há mais de 5.000 lojas autorizadas a exercer esta actividade, segundo a Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Para regular a atividade, aguarda-se a publicação de legislação que proteja os consumidores e o Estado. 

Muitos empresários e desempregados tentam a sua sorte no negócio do ouro que constitui também uma forma de financiamento já que as instituições de crédito ou recusam novos empréstimos ou concedem-nos mediante  pesadas contrapartidas.

O que até há pouco faziam algumas instituições bancárias que atraíam clientes concedendo cartões de crédito ao desbarato, sucede agora com as lojas de compra e venda de ouro. Em pequenos quiosques instalados em corredores de centros comerciais, dois ou três jovens distribuem “fac similes” de notas de 50 euros e aliciam clientes a venderem o seu nobre metal por preços alegadamente compensadores. E quantos não recorrem a este processo para satisfazer compromissos inadiáveis na banca, na farmácia, ou no supermercado onde tudo se paga a pronto e nada fica marcado no rol, como antigamente, à espera da féria da semana.

A honestidade de muita gente, leva os mais aflitos a desfazerem-se de peças de grande valor estimativo e até artístico, a maior parte das vezes por preços inferiores ao justo valor como se fossem apenas uma mercadoria - alerta a DECO.

Não admira, pois, que o ouro exportado do nosso país tenha como destino países europeus como a Bélgica, Espanha, Itália, Alemanha, França, Suíça e Reino Unido, onde a qualidade artística das peças de ourivesaria portuguesa é reconhecida.

Por outro lado, segundo um estudo do Sistema de Segurança Interna  sabe-se que "uma parcela muito significativa do ouro furtado e roubado" em Portugal destina-se a estabelecimentos de comércio de ouro de todo o país, que recorrem "a estratégias ilícitas para legitimar" a origem das peças.

Desde 2006, há nos cofres do Banco de Portugal 383 toneladas de ouro, que valem 15,3 mil milhões de euros (menos de metade das 866 toneladas de ouro existentes em 1974).

É caso para perguntar: por que não vender parte dessas reservas em vez de pagarmos os elevados juros que estão a ser suportados pela maioria dos portugueses, sobretudo os que menos têm?

A resposta tem a ver com um controverso acordo segundo o qual todos os bancos centrais da Zona Euro se comprometeram a vender só pequenas quantidades de ouro. E Portugal já esgotou, praticamente, a quantia que lhe cabia.

As circunstâncias, porém, são outras e justificam medidas diferentes.        

Se o povo fosse chamado a pronunciar-se-ia no mesmo sentido. Mas a democracia participativa está cada vez mais arredada da vida pública.

Perante tudo isto, só nos resta lembrar o velho ditado: Foram-se os anéis, mas ficaram os dedos” e uma esperança inquebrantável num futuro melhor.

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